Em Trás-os-Montes as crianças são marcadas pelo mundo das mulheres. Mães, viúvas de pais ausentes; avós que moram em casa dos filhos; irmãs, tias, primas, madrinhas e vizinhas constituem o universo de afectos que rodeia uma criança. A presença duma família alargada, no feminino, sendo uma constante, deixa marcas indeléveis pela vida fora. Mas, de todas as mulheres, são as avós, de respeitáveis cabelos brancos e corpo fragilizado pelas marcas da vida, que mais intensamente fazem com que cada um de nós - criança, jovem ou adulto - mergulhe na ancestralidade das nossas raízes. Ter uma avó é ter um passado projectado no futuro. Quem não recorda com carinho uma avó?
Avó dos Pereiros
A tia Lucrécia, bela e sem papas na língua, tem um olhar azul profundo, igual ao de muitos outros desta gente, bem feita, das terras da Carrazeda de Ansiães.
Avó do Vieiro, Vila Flor
As avós transmontanas são mulheres típicas de uma cultura rural em vias de rápida transformação. São mulheres que se vestem de negro; que usam cabelo comprido e cobrem a cabeça com lenço. Não pintam as unhas, os lábios nem se perfumam com os cheiros da última moda. Nas vestes portam o peso de uma cultura que aprenderam e transmitiram de geração em geração.
Avó de Chelas - Mirandela
Tem pele suave e branquinha, um olhar ternurento que tem o brilho da cor do mar quando nos seus olhos luzem os raios de Sol. No Verão, o tempo é passado na escada de xisto, com a vizinha, a rezar ou a contar os dias que faltam para a chegada sazonal do filho e dos netos à terra.
A Escolhida
É uma avó de olhar penetrante. A renda que está a fazer é para oferecer a Graça Morais, a pintora transmontana de maior prestígio nacional. A pintora, nascida no Vieiro, Vila Flor, imortalizou esta avó na sua obra "As Escolhidas".
Povo que lavas no rio ...
Avó de Quintas, no Tua - senhora D. Maria do Espírito Santo
Tia Helena
Avó de Travancas, Chaves
Avó de Sonim, Valpaços
Avó de Sonim, Valpaços
Avós sem netos, netos sem avós
A hemorragia emigratória deixou aldeias vazias de gente em idade de procriar. Ficaram as velhas avós. Sinal dos tempos - Agora fecham-se escolas, abrem-se lares.
Crónica
Não tiveram infância. Foram irmãs-mães dos que foram nascendo depois. Trataram dos animais, da lida da casa, amanharam os campos, guardaram rebanhos. Não foram à Escola. Casaram cedo. Por amor, poucas; para se arrumarem, a maioria. Com os filhos, criaram raízes fundas com a vida e com a terra que as sustentava. Mas eles, mal se viam criados, partiam como os passarinhos …
Nas mãos cansadas, à noite, passavam as contas do rosário, pedindo o regresso breve dos seus.
Na espera, a saudade, em duas linhas mal traçadas pela rapariga, a mais velha, que ficara, para cuidar dos pais – “Espero que estejais bons, que nós, ao fazer desta, ficamos bem, graças a Deus”. Depois, as casas cheias de risos, de festa, se chegam os filhos, os netos …
Na espera, a saudade, em duas linhas mal traçadas pela rapariga, a mais velha, que ficara, para cuidar dos pais – “Espero que estejais bons, que nós, ao fazer desta, ficamos bem, graças a Deus”. Depois, as casas cheias de risos, de festa, se chegam os filhos, os netos …
É tempo de olhar, de ouvir, de contar histórias – da vida de cada um, de bruxas e lobisomens, do João soldado, da raposa e do lobo. Aos netos, ensinam os caminhos do monte, as fragas cheias de mistérios, as giestas altas, onde costuma haver ninhos. Com eles colhem amoras e saboreiam figos, ao fim da tarde.Mariana
5 comentários:
Querido tio Adriano
Gostaria imensamente se pudesse colocar a foto da minha avó neste blog, pois se não fosse essa mulher maravilhosa a minha vida não teria sentido! Um beijo no seu coração!
A avó de Quintas é a minha avó, infelizmente já falecida, de seu nome Maria do Espírito Santo; e eu seu único neto, Amílcar Lourenço
Amilcar Lourenço,
Meus sentimentos pela perda da sua avó. Tenho a foto dela ampliada, com a intenção de um dia voltar a Quintas e oferecer-lha. Posso lha entregar a si. Não fique triste, a sua avó vive no seu coração. Um abraço.
Muito grato pela sua amabilidade e generosidade.
Amílcar Lourenço
Olá Amilcar!
Em janeiro vou a Quintas. Irei procurar onde era a cxasa da sua avó e deixarei a foto que lhe prometi há um ano.
Boas Festas
Se mandar o seu email entro em contato consigo.
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